segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Mídia e a preparação da sociedade

 A mídia, não raramente, é classificada como o quarto poder. Entretanto, essa denominação não é apenas aplicada pela capacidade da mídia de atuar como uma vigilante dos desejos da sociedade frente aos outros três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). A mídia é chamada dessa maneira também devido a sua capacidade de manipular os indivíduos, de “por as mãos”. Apesar de o receptor das informações transmitidas pelos meios de comunicação, o público, não ser um disco vazio que absorve todo o conteúdo transmitido sem contestar, já que ele tem uma realidade cultural e social ocasionada pelo ambiente que o cerca que serve como uma suposta barreira e que faz com que ele não aceite tudo que lhe é passado como verdade, as empresas midiáticas apresentam alta capacidade em influenciar o modo de pensar e agir do público, manipulando-o, ou seja, “pondo as mãos em algo”.
        John Thompson em seu livro, “A mídia e a modernidade” estuda a teoria social, criada para analisar o impacto social dos meios de comunicação e o seu papel na criação de uma sociedade moderna. Em primeira instância o autor cria o conceito das formas de interação, sendo elas a face a face (sendo a forma tradicional), a mediada (ou seja, as pessoas conseguem se comunicar por um meio de comunicação, por exemplo, o telefone) e a “quase” mediada (o ser humano recebe as informações dos meios massivos como livro, rádio, televisão, jornal. É como se os meios tivessem apenas uma direção e desprovidos de reciprocidade)



John B. Thompson

        De acordo com Thompson, a sociedade é dividida em quatro poderes. O poder político, o poder econômico, o poder coercitivo, e o simbólico. O político está relacionado ao Estado, ao governo. O econômico é a propriedade privada. O coercitivo é a força (legislativo, militar e etc). O simbólico é o poder da mídia, são os meios de comunicação.
        Para o autor, o simbólico é o mais importante dos poderes pois é por meio da existência dele que os outros acontecem, sem ele os outros não podem existir. Outros não podem existir sem o simbólico pois é por meio dos símbolos que o homem atribui sentido as coisas, inclusive, o que significa ser homem. Isso ocorre pois cada indivíduo interpreta os símbolos de determinada forma(hermenêutica), lhes dá um sentido final. É por isso que Thompson afirma que existe uma manipulação de informações e não de pessoas. O que é manipulado é a informação já que o modo como as informações são transmitidas ocorrem de acordo com o público que se deseja atingir. Um exemplo disso é o modo como a mesma noticia é transmitida nos diferentes jornais da Globo. Se no Jornal Nacional a linguagem é mais simples pois o público alvo do horário pertence à classes mais baixas, no Jornal da Globo a linguagem é mais rebuscada por se entender que naquele horário o público alvo pertence ao empresariado. Um outro exemplo disso é o fato de o público só procurar ler, assistir, o que vai de encontro com os seus pensamentos, os seus ideais. Por exemplo, alguém que têm tendências de esquerda só lê revistas como “Caros Amigo” e “Carta Capital”, mas não lê de maneira nenhuma revistas que sejam defensoras de ideologias de direita.



Pierre Bordieu
    
Já para Bordieu, o poder midiático é produto da soma do campo político com o campo econômico. Para ele, os comunicadores são manipuladores por essência, pois a maneira como os meios de comunicação são construídos os induzem a manipular sem que eles percebam o que estão fazendo. Isso ocorre pois existe uma estrutura invisível. No caso da televisão essa estrutura é a audiência. Na busca por altos índices de audiência, ou seja, de um grande público, um alto número de telespectadores, os comunicadores passam a transmitir somente aquilo que agrada ao público dos programas. Consequentemente, uma maior rentabilidade para as empresas de comunicação se torna possível, já que uma audiência maior significa um maior número de patrocinadores para o programa, além de um aumento nas cifras pagas pelos patrocinadores. Por isso que o autor afirma que o poder mídiatico é a soma do poder político com o poder econômico.


Giovanni Sartori

     Para Giovanni Sartori, os homens sofre manipulação da mídia em consequência de sua natureza. Os homens necessitam imaginar o que lhes é transmitido antes de refletirem sobre o que lhes está sendo passado. Isso acontece pois primeiro o homem visualiza a situação, depois pensa a respeito do que acabou de visualizar e somente por último busca construir um entendimento de todo o processo. Isso ocorria facilmente antes pois o homem estava habituado com as palavras, já que necessitava ter um domínio desse campo, o que facilitava a ocorrência da visualização, do pensamento e do entendimento na configuração de um processo como um todo. Entretanto, a imagem da mídia, da televisão, não permite que o processo do pensamento ocorra, fazendo com que o ser humano deixe de pensar. O “Homo Sapiens” se tornou um “Homo Videns”, ou seja, o homem deixou de pensar e passou apenas a ver. Isso pode ser percebido por meio da constante justificativa de telespectadores a respeito do baixo conteúdo dos programas a que assistem. Ao serem questionadas sobre o baixo nível intelectual dos programas, as pessoas justificam que estão apenas relaxando, que não estão pensando em nada e que portanto, não há mal algum no fato do programa ser pouco reflexivo, pouco produtivo.
     Assim, para não ser manipulado o homem precisa voltar a ser “Homo sapiens” e deixar de ser “Homo Videns” pois somente pensando é que ele poderá oferecer resistência as manipulações midiáticas.


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