segunda-feira, 9 de abril de 2012

Maquiavel e a consciência politica no mundo pós-moderno


Movimentos de protestos em Wall Street

      “Aqueles que fazem a revolução pacífica impossível, tornam a revolução violenta inevitável”. Vivenciando a maior crise mundial desde 1930, milhares de pessoas decidiram protestar ao redor do mundo. Em Wall Street (principal centro econômico mundial), diversas pessoas ocupam as ruas exigindo uma nova organização econômica e social. Na Grécia, país europeu mais debilitado economicamente, a população protesta veementemente contra a crise, muitas vezes de forma até violenta com confrontos entre manifestantes e autoridades locais. Para dar legitimidade as suas ações, muitos desses jovens diriam que os fins justificam os meios. Desse modo, alegariam que suas manifestações ocorrem para melhorar suas condições de vida. No entanto, será que estariam utilizando os pensamentos de Maquiavel de forma correta? Será que Maquiavel concordaria com a frase de John Kennedy, que infelizmente se mostra verdadeira e atual?
           
            Ao afirmar que “os fins justificam os meios”, Maquiavel referia-se somente ao Estado. Entretanto, esta afirmação é normalmente empregada de maneira errada. De acordo com Maquiavel, somente o governante tem o direito de usar de todos os artifícios para garantir a estabilidade do Estado. Dessa maneira, a revolta, os confrontos e os protestos vão contra o bem-estar geral do mesmo, e não possuem legitimidade. Os manifestantes, portanto, estão agindo contra ele, estão provocando o caos. Em consequência disso, cabe ao órgão punir estes infratores, a fim de reestabelecer a Ordem.
           
Protestos na Grécia contra o governo


           Porém em um falido sistema capitalista onde não há nos governos pretensões de alguma mudança significativa cabe ao povo tomar a iniciativa de batalhar para a manutenção do Estado, que seria o único fim pelo qual qualquer meio é justificável segundo Maquiavel. O ano de 2011 foi marcado por manifestações ao redor do mundo, impulsionadas por uma “tomada de consciência de caráter global”, como nomeou o jornalista da Carta Capital Antônio Luiz da Costa. A mais significativa talvez, iniciada pela camada jovem, e esclarecida, da população derrubou três ditadores e ficou conhecida como a Primavera Árabe. Atingindo o sucesso como no norte da África, não seria válido até para os mais céticos a ideia de ir contra o estado para buscar a manutenção dele? Quem viveu o ano de 2011 teve o privilégio de entrar em contato com manifestações populares que há muito tempo não atingiam tamanha aceitação pelo resto do povo. Nos EUA o Occupy Wall Street além de todos os mobilizados que levantaram acampamento em plena avenida de Nova York, milhões de pessoas pelo mundo simpáticas ao movimento ocuparam os centros econômicos de seus respectivos países tentando chamar a atenção para a luta contra o opressor sistema capitalista. Na Espanha movimentos como o Toma la Plaza, de Madrid, e os Indignados, também tiveram grande número de adeptos por todo o mundo, principalmente na Europa onde a crise econômica era mais presente. Em seus textos Maquiavel dizia que só com o amadurecimento e esclarecimento do povo a república seria o modo de governo ideal. “Reivindicamos a dignidade e a consciência política e social. Não representamos a nenhum partido nem associação. Une-nos uma vocação de mudança”, esse é um trecho do manifesto do Toma la Plaza movimento de caráter de conscientização popular, que segue fazendo manifestações por toda a Espanha.

            Segundo Maquiavel a liberdade pode ser produto de conflitos, talvez só com conflitos possamos atingir a liberdade. A população é cada vez mais esclarecida e movimentos ao redor do mundo tentam a ideal manutenção do Estado. Infelizmente, apenas quando é oprimido se desperta o sentimento de mudança na população como um todo. Revolucionar, protestar e buscar a conscientização coletiva é uma vocação do homem.