Movimentos de protestos em Wall Street
“Aqueles que fazem a revolução pacífica impossível, tornam a
revolução violenta inevitável”. Vivenciando a maior crise mundial desde 1930,
milhares de pessoas decidiram protestar ao redor do mundo. Em Wall Street
(principal centro econômico mundial), diversas pessoas ocupam as ruas exigindo
uma nova organização econômica e social. Na Grécia, país europeu mais
debilitado economicamente, a população protesta veementemente contra a crise,
muitas vezes de forma até violenta com confrontos entre manifestantes e autoridades
locais. Para dar legitimidade as suas ações, muitos desses jovens diriam que os
fins justificam os meios. Desse modo, alegariam que suas manifestações ocorrem
para melhorar suas condições de vida. No entanto, será que estariam utilizando
os pensamentos de Maquiavel de forma correta? Será que Maquiavel concordaria
com a frase de John Kennedy, que infelizmente se mostra verdadeira e atual?
Ao afirmar que “os fins justificam
os meios”, Maquiavel referia-se somente ao Estado. Entretanto, esta afirmação é
normalmente empregada de maneira errada. De acordo com Maquiavel, somente o
governante tem o direito de usar de todos os artifícios para garantir a
estabilidade do Estado. Dessa maneira, a revolta, os confrontos e os protestos
vão contra o bem-estar geral do mesmo, e não possuem legitimidade. Os
manifestantes, portanto, estão agindo contra ele, estão provocando o caos. Em
consequência disso, cabe ao órgão punir estes infratores, a fim de
reestabelecer a Ordem.
Protestos na Grécia contra o governo |
Porém em um falido sistema
capitalista onde não há nos governos pretensões de alguma mudança significativa
cabe ao povo tomar a iniciativa de batalhar para a manutenção do Estado, que
seria o único fim pelo qual qualquer meio é justificável segundo Maquiavel. O
ano de 2011 foi marcado por manifestações ao redor do mundo, impulsionadas por
uma “tomada de consciência de caráter global”, como nomeou o jornalista da
Carta Capital Antônio Luiz da Costa. A mais significativa talvez, iniciada pela
camada jovem, e esclarecida, da população derrubou três ditadores e ficou
conhecida como a Primavera Árabe. Atingindo o sucesso como no norte da África,
não seria válido até para os mais céticos a ideia de ir contra o estado para
buscar a manutenção dele? Quem viveu o ano de 2011 teve o privilégio de entrar
em contato com manifestações populares que há muito tempo não atingiam tamanha
aceitação pelo resto do povo. Nos EUA o Occupy Wall Street além de todos os
mobilizados que levantaram acampamento em plena avenida de Nova York, milhões
de pessoas pelo mundo simpáticas ao movimento ocuparam os centros econômicos de
seus respectivos países tentando chamar a atenção para a luta contra o opressor
sistema capitalista. Na Espanha movimentos como o Toma la Plaza, de Madrid, e
os Indignados, também tiveram grande número de adeptos por todo o mundo,
principalmente na Europa onde a crise econômica era mais presente. Em seus
textos Maquiavel dizia que só com o amadurecimento e esclarecimento do povo a
república seria o modo de governo ideal. “Reivindicamos a dignidade e a
consciência política e social. Não representamos a nenhum partido nem
associação. Une-nos uma vocação de mudança”, esse é um trecho do manifesto do Toma
la Plaza movimento de caráter de conscientização popular, que segue fazendo
manifestações por toda a Espanha.
Segundo Maquiavel a liberdade pode
ser produto de conflitos, talvez só com conflitos possamos atingir a liberdade.
A população é cada vez mais esclarecida e movimentos ao redor do mundo tentam a
ideal manutenção do Estado. Infelizmente, apenas quando é oprimido se desperta
o sentimento de mudança na população como um todo. Revolucionar, protestar e
buscar a conscientização coletiva é uma vocação do homem.