segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sorria! Você está sendo filmado!


A sociedade disciplinar era uma sociedade baseada em um poder hierárquico, centrado nas instituições, como a Família, a Escola, a Igreja, a Indústria, por meio das quais destacava-se a figura de um “superior”: o pai, o professor, o padre etc.
        Essa imposição da sociedade de disciplina na massa popular era evidente, as instituições como a coroa e a igreja, por exemplo, mantinham o controle através da força, da censura, da repressão, etc, e formaram um grupo social que aceitava ser submetido à essa opressão. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, da tecnologia, e principalmente dos modelos socio-econômicos e do capitalismo, a sociedade disciplinar se transformou em uma sociedade de controle, onde era necessário a manutenção dessa massa oprimida, visto que a mesma já começava a conquistar um certo nível de influência na sociedade, além de começar a obter uma cultura de acesso muito mais fácil, conforme a sociedade ia se modernizando.

Por sua vez, a sociedade de controle apresenta linhas aparentemente mais tênues, porém, extremamente eficazes. Ao invés do controle exercido por meio das instituições, das figuras disciplinares, os limites para o indivíduo são estabelecidos por toda sociedade uma vez que todos vêem e são vistos. Nessa sociedade de controle os micropoderes das instituições apresentam-se agora sob a tutela do Estado de maneira conjunta. Sendo assim, essa nova forma de controle se mascara em uma série de regras e conceitos éticos e morais que o levam a  determinado comportamento, sem mostrar abertamente sua imposição sobre a massa.
Uma estratégia de dominação presente na sociedade de controle é a difusão do desinteresse pela política. Um dos objetivos dessa sociedade é fazer com que a população não se interesse pela política, não participe da política. Assim, a burocracia, os lentos trâmites característicos do funcionalismo público contribuem para a disseminação desse desinteresse da população.
Soma-se a isso, a estratégia de dominação que exerce uma das mais importantes funções na sociedade de controle, a biopolítica. Essa política é voltada para a vida, sobre a valorização dos benfeitores (produtores, consumidores) e a repreensão dos malfeitores (os que não contribuem para o capitalismo), como foi tematizado por Foucault. Sendo assim, uma política de valorização da saúde pública, do bem-estar social, que valoriza o ser humano, sendo na verdade um bem-estar de fachada, que não mostra o controle que a população é submetida, feliz com o que lhes é dado. Para o trangressor, a morte é conduzida através de exílios, encarceramento, privação dos meios de sobrevivência, entre outros meios de causar não a morte física, mais a morte social de quem vai contra as regras. Essa política se mostra eficaz pois vai de encontro ao pensamento da população.
Além disso, um outro fator importante para que a sociedade de controle surgisse foi a racionalidade. Essa racionalidade permite que os indivíduos concluam estarem sendo representados por meio da democracia participativa que, no fundo, nada mais é do que uma forma de controle. Entretanto, nessa sociedade de controle a individualização da massa, dá lugar a uma massa heterogênea, a população. Essa população diversificada, como foi dito, sente-se representada pela democracia. Assim, os conflitos entre as diferentes classes são resolvidos por meio das leis criadas pelo Estado com o consentimento dos diversos grupos que acreditam, de forma errônea, terem sido ouvidos.
Segundo Deleuze, a sociedade de controle surgiu após a Segunda Guerra Mundial, substituindo a sociedade de controle. Essa nova sociedade é consequência direta das mudanças ocorridas no mundo capitalista. Destaca-se entre essas mudanças, as inovações tecnológicas que são a maior evidência do controle do poder nas sociedades atuais.
Se antes os indivíduos eram vigiados pelas instituições, hoje, o grande número de câmeras espelhados pelos ambientes sociais, os aparelhos celulares, os números de identificação, a internet, etc, servem para vigiar e controlar cada indivíduo de maneira eficaz.
Assim, diferentemente da sociedade disciplinar, em que o controle ocorria em espaços fechados, nas instituições, nessa sociedade, o controle ocorre em todos os momentos, em todos os campos sociais, em todos os espaços da vida pública.
Portanto, não há mais um espaço físico restrito para o poder, ele está presente em todos os lugares. Em consequência disso, ele se demonstra mais eficaz e perigoso pois como atua de maneira disfarçada, sustentado pelas novas tecnologias, é mais controlador.
Logo, a Internet, pode ser considerada um dos maiores símbolos desse controle pois ela concentra diversos tipos de informações a respeito dos indivíduos em seus bancos de dados. Bancos, construídos com o consentimento das pessoas que voluntariamente fornecem suas informações a esses dados de vigilância por meio das redes sociais, sites, blogs etc.
"Sociedade de controle", por Fernando Mourão
Assim, o controle com a ajuda da tecnologia, passa quase que desapercebido, torna-se natural. E presente no cotidiano dos indivíduos, leva-os a  interiorizar esses conceitos e a atuar de maneira concomitante ao Estado como controladores da sociedade.
Também para Deleuze, o homem que vivia confinado na sociedade disciplinar passou a ser um homem endividado na sociedade de controle. Para ele, apesar de ocorrer de maneira diferente, o homem continua sofrendo as mesmas “repressões” de antes. Os sistemas de venda a crédito, os empréstimos, os pagamentos antecipados, os impostos, etc, são formas de endividamento do indivíduo. Por meio dessa dívida, torna-se possível controlar o indivíduo de maneira branda pois, assumindo o compromisso de quitá-las no futuro , ele torna-se parte do mercado, das Instituições a quem deve.
Concluindo, na sociedade de controle os mecanismos de dominação ocorrem de forma sutil, pois uma vez internalizados em cada indivíduo na sociedade como um todo, passam despercebidos pela população. Assim, deixam de existir os muros que separam o público do privado, as instituições dos indivíduos. Em consequência disso, a vigilância ocorre o tempo todo, em todos os lugares, sem a necessidade de uma figura autoritária para isso.


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